A realidade da vivência de pessoas LGBTQIA+ no contexto universitário

Estudante de marketing, aos 27 anos, depois de tentar outros caminhos e se encontrar na área da comunicação, José Carlos, jovem-semente de 2022,  reconhece que sua trajetória não foi influenciada apenas pela escolha de cursos. 

Se reconhecer enquanto uma pessoa LGBTQIA+ fez com que sua jornada estudantil passasse por situações que pessoas héteros e cis-gênero nunca precisariam sentir na pele: piadas, bullying, preconceito e violência.

Apesar de ser difícil, de ser muito complicado e muitas vezes o rendimento acadêmico acabar caindo porque não se tem vontade de ir para aula e lidar com preconceitos, é muito importante ocupar esses lugares, participar ativamente das aulas, tentar encontrar uma outra pessoa. Um amigo para ir para aula ou um amigo para você desabafar um amigo para você chorar as pitangas

José Carlos
Juntos somos orgulho

Um longo caminho a percorrer

A luta da comunidade LGBTQIA+ no Brasil defende desde as pautas culturais e de costumes até demandas relacionadas à saúde, ao acesso à educação e ao combate à violência. Um dos marcos mais importantes do movimento LGBTQIA+ no país foi a criminalização da lgbtfobia pela Lei nº 7.716/89, além do reconhecimento da validade de uniões homoafetivas. Foram muitas as conquistas, contudo ainda há muito pelo que lutar.

O Brasil é o país que mais mata LGBTs no mundo, com destaque para a violência contra a comunidade trans e travesti, segundo relatório da Antra (Associação Nacional de Travestis e Transexuais). Os problemas são também estruturais, pessoas LGBTQIA+ tem menor taxa de empregabilidade em relação a cis-heterossexuais, e enfrentam estigmatização, humilhação e discriminação em serviços de saúde, a comunidade também encontra grandes dificuldades no acesso a educação.

Obstáculos na luta pela visibilidade LGBTQIA+

Os obstáculos e preconceitos foram parte da formação educacional de José Carlos. Parte de uma família de baixa renda, ele estudou durante toda a sua vida em escolas públicas e viveu uma longa trajetória com bullying e sofrendo preconceito na pele. Em suas próprias palavras, ele foi “premiado”, sendo “preto, gordo e viado”.

As dificuldades não pararam na educação básica, e o seguiram até o ensino superior. Ingressou em Engenharia Elétrica na UNESP, se mudando de cidade para estudar, mas por várias questões, teve que evadir do curso. decidiu seguir a carreira de marketing e hoje está realizando sua graduação na USP. Ele conta que durante esse percurso ele não era abertamente LGBTQIA+ efetivamente, mas mesmo assim sofria com preconceitos.

A galera me chamava de gay na escola, mas eu não sabia o que era gay, eu não sabia o que aquilo significava, não sabia o porquê estavam falando isso de mim e eu acho que o reflexos disso era que eu acabava sendo uma pessoa muito mais introvertida do que eu sou hoje.

José Carlos

Um ambiente solitário

José conta ainda que se sentia muito deslocado durante sua primeira graduação, não tinha um grupo de amigos dentro do curso e esse foi um dos principais motivadores para abandonar a graduação:

Eu não me sentia parte daquilo. E eu acho que esse é um dos grandes impactos para quem é LGBT

José Carlos

Em estudo realizado no ano de 2016 pela Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT) sobre estudantes LGBT e o ambiente escolar, revelou-se que 73% dos jovens identificados como LGBT sofreram agressão verbal na escola por causa da sua orientação sexual. Além disso, cerca de 60% afirmaram se sentir inseguras dentro da escola por causa de sua orientação sexual ou identidade de gênero.

Esse tipo de violência é motivo para que os jovens assim como José Carlos abandonem os estudos por se sentirem excluídos, cenário que se repete no mundo universitário. Além disso, muitos experienciam o abandono familiar ao se assumir como LGBTQIA+, o que pode afetar sua permanência em uma universidade, já que não possuem apoio financeiro.

Juntos Somos Orgulho

Falta de apoio das universidades

Apesar de todas as dificuldades e obstáculos os auxílios e apoio vindo das universidades é baixíssimo ou em muitos casos nulo. José Carlos aponta que na sua realidade não recebeu nenhum tipo de apoio em nenhuma das duas graduações, mas ele acredita que a discussão sobre os direitos das pessoas LGBTQIA + ganha cada vez mais destaque em algumas áreas da universidade.

Mesmo o apoio vindo do governo e das organizações públicas sendo pouco, muitas ONGs e coletivos dentro e fora das universidades vem realizando um intenso trabalho de colocar questões de gênero e sexualidade em discussão para desmistificar tabus e levantar pautas de direitos básicos e igualdade como é o caso do coletivo Todas As Letras atuante na USP.

Uma mudança necessária

É fato que hoje a luta pelos direitos LGBTQIA + evoluiu e alcançou vários marcos, como José Carlos contou, em uma de suas visitas a sua antiga escola ele encontrou casais LGBTQIA+ no pátio andando de mãos dadas, algo que dez anos atrás seria inimaginável. 

Contudo, ele ressalta a importância de discutir e defender essas pautas, de ocupar os lugares que foram alcançados pela luta LGBTQIA+ e de incentivar que cada vez mais pessoas ocupem esses lugares.

Eu acho que o que faz com que a gente vá melhorando é a gente efetivamente usufruir dos direitos que a gente já tem e brigar para que eles sejam cumpridos. Porque apesar de hoje em dia a LGBTfobia ser crime, as pessoas não fazem muita vista grossa, porque socialmente esse comportamento ainda é muito aceito.

José Carlos

Uma mudança necessária

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