Da Brasilândia até a USP: conheça a vencedora do PlantYou 2024
O PlantYou é um projeto do Semear que visa o desenvolvimento profissional e pessoal de jovens talentos. Ao longo de uma trilha de treinamentos, os jovens são convidados a tangibilizar o que é o seu propósito e como se manifesta sua causa pessoal. Além disso, o Semear os ajuda em questões técnicas e práticas: estratégias de autodesenvolvimento, networking, construção de currículo, manutenção de linkedin, preparação para entrevistas de emprego e muito mais!
Instituto Semear: Qual seu nome, idade e curso?
Gabriela: Gabriela Malara, 29 anos, Educomunicação (ECA-USP).
Instituto Semear: Quais foram seus desafios para chegar a graduação?
Gabriela: Sou da Brasilândia (periferia de São Paulo) e como sofria bullying na escola, parei de estudar cedo. Encontrei salvação na escrita criativa, criava meus textos em cadernos do governo que eu decorava com colagens nas capas. Mergulhei em livros de ficção que encontrava na Internet em blogs que falavam sobre autores que eu gostava, mas ainda faltava alguma coisa. Eu me sentia vazia, mas não conversava com ninguém sobre isso. Talvez minha mãe tenha percebido, já que do nada, ela teve a ideia de voltar a estudar comigo. Então, quando eu tinha 15 anos, minha mãe, com 52, se tornou minha colega de classe no EJA (Educação de Jovens e Adultos). Eu não queria voltar a apanhar, ser excluída e xingada, então jamais teria voltado sem ela. Minha mãe me deu o sentimento de proteção que eu precisava e me trouxe até aqui. E talvez ela nunca tenha recebido o crédito que merece pela minha futura formação na USP.
Aos 17, ganhei uma bolsa para estudar Multimídia no SENAC e nunca mais parei de fazer cursos, mas a faculdade ainda era um desejo escondido. Achava que não dava mais tempo e que eu não tinha direito de tentar porque quando era criança, assisti a uma reportagem sobre a USP e falei para uma prima que queria estudar lá. Ela me disse que aquele espaço não era pra mim, e eu acreditei nisso por anos.
Mas nem que eu quisesse, conseguiria fazer faculdade porque não tinha terminado o Ensino Médio. Parei de estudar aos 18 porque já não conseguia mais conciliar trabalho e estudos. E naquela época, precisávamos muito de dinheiro, então parar de trabalhar não era uma opção. Então fiz o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 4 vezes seguidas tentando concluir o Ensino Médio por meio da prova. Não consegui em nenhuma das vezes. Só consegui quando a prova para terminar o Ensino Médio passou a ser oferecida pelo Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos (Encceja). Assim ficou mais justo e democrático, condizente com quem tinha parado de estudar cedo. Porém, isso só aconteceu aos 22 anos. Nos três anos seguintes tentei entrar na Unesp de Bauru, apenas estudando em casa e sem ajuda. Também não consegui passar na prova, claro. Até que, aos 25 anos, entrei no Cursinho Ferradura (comunitário, de Bauru – SP), mas em seguida veio a Pandemia e o cursinho passou a ser on-line. Foi um período de muita ansiedade e medo e como estava longe da família, passava metade do tempo trabalhando e a outra metade preocupada com meus pais. Então eu comecei a faltar no cursinho cada vez mais. E quando veio a FUVEST, não tive coragem de comparecer na prova, com medo de pegar Covid-19. No ano seguinte, quando a pandemia estava mais controlada, voltei para o cursinho com o pensamento de me comprometer por completo. E pensando em não faltar nas aulas, me tornei representante de classe. A sensação de ser minimamente responsável por outras pessoas, me fez levar mais a sério do que nunca. Nos primeiros 7 meses de cursinho, não tive nenhuma falta sequer e criei um grupo de estudo aos sábados.
Em novembro daquele ano, fui demitida. O desespero não durou muito tempo porque resolvi usar isso como uma forma de estudar ainda mais. Como faltavam 33 dias para a prova da segunda fase da FUVEST, estudei quase todos os dias, inclusive no Natal e no Ano Novo. A aprovação na FUVEST veio na primeira tentativa, mas um novo problema surgiu. Eu teria que voltar para São Paulo para estudar, mas não tinha dinheiro suficiente para isso. Fizemos vaquinha, rifa, tentamos entrar em contato com criadores de conteúdo no YouTube que ajudavam as pessoas, pedimos dinheiro emprestado e fizemos um empréstimo (essas duas últimas foram as únicas alternativas que funcionaram). Meu noivo Jackson e eu demoramos dois anos para terminar de pagar o empréstimo e a amiga que nos emprestou dinheiro.
Só consegui me mudar para São Paulo na terceira semana de aula, então perdi as primeiras aulas e a Semana de Recepção de calouros. Então até hoje às vezes bate um sentimento de “como cheguei até aqui?” porque corremos muito para fazer a mudança. Eu cheguei e as coisas já estavam fluindo, então foi uma adaptação complicada. Fora que a Pandemia ainda estava preocupando todos e todas nós. As salas lotadas tornavam quase impossível não pensar no risco que estávamos correndo, mas deu tudo certo.
E eu, que antes era editora de vídeo e entrei na Universidade pensando em mudar de carreira, mergulhei na Educomunicação o quanto consegui. Fui estagiária no Laboratório de Educomunicação, fui coordenadora da Semana de Educomunicação, sou bolsista, educomunicadora voluntária, integrante de um Grupo de Pesquisa e defensora do uso da Linguagem Simples em todos os espaços, que é uma ferramenta muito usada na Educomunicação.
E tudo isso só foi possível por causa da atitude que minha mãe tomou quando eu tinha 15 anos. Ela lutou a vida toda e desistiu dos próprios sonhos para criar meus irmãos e a mim. Então minhas vitórias também são dela porque, como diz a filosofia Ubuntu, “eu sou porque nós somos”.
É muito difícil conseguir imaginar a minha trajetória acadêmica sem o Semear me regando e me ajudando a crescer. Vocês foram absolutamente empáticos, altruístas e podem ter certeza que vou tentar multiplicar sempre porque foi esse valor que vocês me ensinaram.
Instituto Semear: Como conheceu o Semear?
Gabriela: O Semear enviou um e-mail de divulgação do processo seletivo para o Departamento Comunicações e Artes da ECA-USP, que é o departamento da Licenciatura em Educomunicação. Encaminharam para os e as estudantes e eu tive a sorte de ver o e-mail a tempo de fazer a inscrição. Foi um dos e-mails mais importantes que já recebi desde que cheguei em São Paulo.
Instituto Semear: Qual papel o Semear teve na sua vida?
Gabriela: Eu costumo dizer que o Semear muda vidas. É impressionante como hoje consigo ver uma mudança significativa entre a Gabriela que entrou no Instituto e a Gabriela que está saindo. Eu era tímida em níveis paralisantes. Mas todos os meus mentores e minhas mentoras ajudaram nessa melhora. Especialmente Rafael e Ana, que foram as pessoas com quem mais tive contato nas mentorias, mas também Samuel, Aline e Flávia, que fizeram mentorias de sessão única. E Simone e Jô, que foram minhas tutoras, também ajudaram no meu crescimento pessoal, além do João, responsável pelo PlantYou. É muito difícil conseguir imaginar a minha trajetória acadêmica sem o Semear me regando e me ajudando a crescer. Vocês foram absolutamente empáticos, altruístas e podem ter certeza que vou tentar multiplicar sempre porque foi esse valor que vocês me ensinaram.
Instituto Semear: Como os treinamentos do PlantYou te ajudaram?
Gabriela: Foi por meio dos treinamentos do Semear que descobri que o meu propósito é ajudar as pessoas por meio das palavras, seja em coordenação de projetos educomunicativos, seja por meio da escrita de textos de ficção, seja misturando essas duas áreas dando oficinas de escrita no futuro. Isso porque acredito que a arte, a educação e a comunicação podem salvar (e me salvam todos os dias). Todos os treinamentos me ajudaram a crescer um pouco mais, mas o meu favorito foi justamente o que Semear usou o Ikigai para ajudar os e as jovens a descobrirem quais são os nossos propósitos e o que queremos fazer no futuro. É muito importante ter um norte e o Semear nos deu isso de presente.
Instituto Semear: Como se tornou ganhadora do PlantYou?
Gabriela: O que me passa pela mente é que levei a minha participação no Semear a sério, desde o dia 1. Desde que o e-mail de aprovação na primeira etapa do processo seletivo do Semear chegou na minha Caixa de Entrada no dia 6 de fevereiro de 2023. Na verdade, até antes, enquanto fazia todas as etapas do processo seletivo. Porém, preciso admitir que como foram muitas etapas, em cada uma delas eu me sentia menos capaz de conseguir. Minha autoestima baixa dizia: “você não vai conseguir, nem tenta”. Mas ouvi o Manoel Oliveira (um dos fundadores do Instituto Semear) dizer em um vídeo a seguinte frase: “As habilidades, as competências, estão dentro das pessoas. Nosso trabalho é simples: é só fazer desabrochar.” Foi nesse momento que eu percebi que o Semear poderia ser minha água e que eu já era uma semente, só precisava ser regada e cuidada. E vocês fizeram isso por mim: cuidaram, orientaram e me ajudaram a crescer e florescer. O que posso dizer é que é preciso encarar o Semear como uma responsabilidade real, respeitando o trabalho que o Instituto faz, que não é fácil e nem simples.
Instituto Semear: Quais suas expectativas para o intercâmbio?
Gabriela: Como vamos ajudar na revitalização de um parque e vamos ter uma troca cultural com as crianças (com muitas brincadeiras e atividades de promoção a leitura), sei que vai ser uma experiência muito rica. Estudo Educomunicação, então é uma chance única de aprender mais sobre relações horizontais com crianças, pois estou mais acostumada a lidar com adolescentes nos estágios obrigatórios e atividades da faculdade. Além disso, sou estagiária no Instituto Akatu, que ensina sobre meio ambiente e consumo consciente. Então auxiliar na revitalização de um parque irá me ajudar também a aprender mais sobre esses assuntos. Para além do voluntariado, estou em contato com alguns professores que me ajudaram a chegar até aqui. Pensando no futuro profissional e acadêmico, estamos tentando ver formas de eu ter algum contato com professores da Colômbia durante a minha estadia.
Instituto Semear: Como foi sua experiência na Feira da Empregabilidade?
A Feira da Empregabilidade é o evento de encerramento do PlantYou, nossa trilha focada no desenvolvimento profissional e empregabilidade dos nossos jovens. Na feira as empresas parceiras têm a oportunidade de interagir com jovens, ouvir suas histórias de sucesso, seus sonhos de futuro e ainda atrair jovens talentos para suas equipes.
Gabriela: Sinto que a minha participação na Feira de Empregabilidade, simbolizou que todo o esforço que fiz até aqui, valeu a pena. Todas as mentorias, missões e treinamentos me levaram até aquele momento. Mentores, mentoras e tutoras (Rafael, Ana, Samuel, Aline, Flávia, Simone e Jô) me ensinaram e ajudaram como podiam e um pedacinho de cada um e cada uma, participou comigo desse momento especial. Eu nem sonharia em participar de forma tão exposta assim em uma Feira há alguns anos. Então, para chegar até aqui, precisei abraçar as mudanças e o que todos e todas vocês me ensinaram. Na Feira, tentei mostrar que o tempo e recursos que investiram em mim, valeram a pena. Além de mostrar que sem vocês, a minha timidez paralisante ainda estaria aqui, fazendo oportunidades como a Feira de Empregabilidade passarem sem que eu conseguisse aproveitar. Além de apresentar meu pitch, conversei com todas as empresas e fui muito acolhida por todo o time do Semear e Jovens-Semente de vários anos. Foi um dia muito especial e saí de lá extremamente grata e feliz.
Rumo a Colômbia!
O Instituto Semear e a Exchange do Bem me deram a chance de participar de um intercâmbio voluntário em Medellín (Colômbia), com tudo pago! Estou muito feliz!
Porém, ainda preciso me preparar comprando algumas coisas essenciais para a viagem, como roupas adequadas, tênis de caminhada, adaptador de tomada e carregador portátil, além de fazer um check-up médico. Por isso, criei uma vaquinha para me ajudar com esses custos extras e estou contando com o apoio de quem puder contribuir. Qualquer valor será muito bem-vindo e fará toda a diferença para que eu possa embarcar tranquila nessa experiência! Se não puder colaborar financeiramente, compartilhar já ajuda muito! Desde já, muito obrigada por todo o carinho e apoio! Chave PIX: gabrielasmalara@gmail.com Dados Bancários: Agência: 0001 Conta: 527899-2 Banco: 0260 Nu Pagamentos S.A.
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